Redes comunitárias defendem gestão compartilhada do fundo Iber-Cultura Viva

Encontro do Conselho reuniu 17 países

Encontro do Conselho reuniu 17 países

Em Cartago, cidade mais antiga da Costa Rica, as redes de cultura comunitária de 17 países da América Central e do Sul realizaram, nesta sexta-feira (11), um encontro do Conselho Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. A reunião aprovou propostas que serão apresentadas a ministros e representantes de Estado no “Diálogo intersetorial” do VI Congresso Ibero-americano de Cultura que, pela primeira vez, tem como tema central as culturas vivas comunitárias.

“Aqui estamos celebrando uma conquista muito importante que é o Congresso Ibero-americano ter tomado como tema o nome de Culturas Vivas Comunitárias”, comemora Eduardo Balan, da rede Argentina Pueblo Hace Cultura e articulador da Plataforma Puente Cultura Viva Comunitária. “O fundamental é que chegamos aqui com uma grande representação de muitos países. Estamos mais organizados do que há tempos atrás e lançando muitas iniciativas”, afirma Balan.

Eduardo Balan

Eduardo Balan

Entre as ações aprovadas no encontro do Conselho está a defesa da gestão compartilhada do Fundo Ibero-americano de Fomento à Política Cultural de Base Comunitária – proposto na última Cúpula Ibero-americana pelo Ministério da Cultura do Brasil e denominado Iber-Cultura Viva –, além do investimento de pelo menos 1% do orçamento estatal para a cultura, sendo 0,01% para a cultura viva comunitária.

“O movimento de cultura viva comunitária tem o objetivo de produzir uma mudança estrutural na relação com o território de toda América Latina e nas políticas públicas”, explica Balan. “Por isso, é muito forte em nosso trabalho a luta por um fundo nacional de apoio à cultura viva comunitária. Isso não tanto por uma questão monetária. Tem a ver com pensar em criar uma institucionalidade diferente, que conceba o território como um lugar de origem e não de destino das políticas públicas.”

Para o argentino, trata-se de uma nova cultura política. “A realidade é que hoje os nossos governos armam as políticas em escritórios, salas fechadas, e o território é o lugar onde as aplicam. É quase uma estratégia de ocupação. Uma democracia participativa necessita que as políticas surjam do território e da participação comunitária e da comunidade, da análise de cada local, de cada necessidade. Esta é a concepção que trazemos para cá e defendemos”, conclui.

Ibero de baixo para cima

Para fortalecer essa nova prática e apresentar as propostas das redes comunitárias no “Diálogo intersetorial”, que ocorrerá no domingo, 13, o encontro elegeu uma representação de 20 pessoas, entre elas três brasileiros: Aderbal Ashogun Moreira, da Rede Afro-ambiental de Cultura Viva RJ, Alexandre Santini, do Laboratório de Políticas Culturais da UFRJ, e Teotônio Roque, articulador institucional local do território TEIA Nacional.

“Esperamos que hajam avanços concretos nas pautas da rede de cultura viva comunitária, mas também sabemos que esses encontros são, geralmente, declaratórios. Agora, a presença de atores da sociedade civil neste espaço já é por si uma conquista, um avanço que temos que consolidar”, avalia Santini. “É um debate produtivo porque é multissetorial, leva em conta a quantidade de atores que promovem as políticas, o conceito de gestão de

baixo pra cima. É preciso que os fóruns, cada vez mais, reconheçam a necessidade dessa escuta”, conclui.

Fresia Camacho

Fresia Camacho

Para Fresia Camacho, coordenadora geral do Congresso Ibero-americano, “o objetivo é integrar os setores para construir uma agenda comum. O que dá a possibilidade de diálogo e interlocução, de incidir, de se reconhecer como sujeitos de direitos culturais e isso já é um resultado muito importante.”

Participaram do encontro do Conselho Latino-americano de Cultura Viva Comunitária: Argentina, Brasil, Belize, Bolívia, Colômbia, Cuba, Chile, Costa Rica, El Salvador, Equador, Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela. Além das redes brasileiras já citadas, também estão na Costa Rica a rede Fora do Eixo, a Rede Mocambos, a Ação Griô, a rede de pontos de cultura, entre outras.

História e representatividade

O VI Congresso Ibero-americano de Cultura se estende até 13 de abril, na capital San José. Dos 22 membros da Cúpula Ibero-americana, 11 países enviaram delegações diplomáticas ao Congresso, além da presença de sete ministros e da Secretária Geral Ibero-americana, Rebeca Grynspan. Ao todo, cerca de 500 pessoas participam do evento antecedido por um encontro nacional de culturas vivas comunitárias e simultâneo ao Festival Internacional das Artes.

A cobertura colaborativa do congresso envolve diversas redes culturais. O evento está sendo transmitido ao vivo via rádio e TV web, e também debaterá a democratização da mídia, o compartilhamento de ferramentas e plataformas livres, além da defesa de políticas públicas que valorizem rádios comunitárias e a mídia alternativa.

A primeira edição do Congresso ocorreu no México, em 2008, e focou o cinema e o audiovisual. Em 2009, aconteceu no Brasil sob o lema “Cultura e transformação social”. A Colômbia acolheu a edição de 2010, tendo como tema a música ibero-americana. Em 2011, o Congresso ocorreu na Argentina e centrou-se nas relações entre cultura, política e participação popular. Na Espanha, em 2013, o evento destacou a cultura digital e o trabalho em rede.

Serviço:
VI Congresso Ibero-americano de Cultura
De 11 a 13 de abril, em Jan José, Costa Rica
Mais informações:
http://www.culturaiberoamerica.cr/

Acompanhe a cobertura pelo facebook:
https://www.facebook.com/pages/Lei-Cultura-Viva/411276908942032

Por Carla Santos,
Fotos: Neander Heringe,
De Cartago, Costa Rica

 

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